Do Evangelho segundo S.Mateus, capítulo 2, [...] E, tendo nascido Jesus em Belém de Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do oriente a Jerusalém, Dizendo: Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no oriente, e viemos a adorá-lo. [...] Então Herodes, chamando secretamente os magos, inquiriu exactamente deles acerca do tempo em que a estrela lhes aparecera.
E, enviando-os a Belém, disse: Ide, e perguntai diligentemente pelo menino e, quando o achardes, participai-mo, para que também eu vá e o adore.
E, tendo eles ouvido o rei, partiram; e eis que a estrela, que tinham visto no oriente, ia adiante deles, até que, chegando, se deteve sobre o lugar onde estava o menino.
E, enviando-os a Belém, disse: Ide, e perguntai diligentemente pelo menino e, quando o achardes, participai-mo, para que também eu vá e o adore.
E, tendo eles ouvido o rei, partiram; e eis que a estrela, que tinham visto no oriente, ia adiante deles, até que, chegando, se deteve sobre o lugar onde estava o menino.
Fresco A Adoração dos Magos – Giotto (1303-1305) – Capela Scrovegni, Pádua. Crédito: © Web Gallery of Art |
Além desta breve referência no Ev. de S.Mateus, a Estrela de Belém é também mencionada num escasso grupo de textos denominados “não canónicos”, isto é, têm valor histórico mas não são considerados “Evangelhos” e por isso não incluídos nas Sagradas Escrituras. Um deles é o evangelho de Tiago (21:2): [...] Que sinal vistes indicando o nascimento desse rei?" Responderam os magos: "Um grande astro brilhou entre as demais estrelas de forma a ocultar-lhes [a luz].Porém, não deixa também de ser curioso que já no Antigo Testamento, anterior ao Nascimento de Cristo, havia referências e uma tradição em associar grandes eventos, nascimentos, batalhas, guerras etc, a fenómenos de natureza astronómica, sinais celestes, como por exemplo o aparecimento de estrelas.
Mas para nós a imagem, a Estrela de Belém a assinalar o Nascimento de Cristo, mesmo que mencionada brevemente em alguns textos, chegou até nós com muita força e assim tem permanecido enraizada na nossa cultura.
Como imagem, A Estrela de Belém aparece em muitas representações da Natividade que foram sendo criadas ao longo dos séculos. As mais antigas mostram uma estrela simples, de seis, sete ou oito pontas, como é o caso de algumas, do séc. IV, encontradas em sarcófagos no Vaticano, ou, do séc. VI, em mosaicos de Ravena. O capitel do séc. XII, de Gislebertus, da catedral de Autun, que se pode ver na primeira imagem, exibe também uma estrela de oito pontas (imagem seguinte)O sonho dos Magos – Gislebertus – (1120-30) – Capitel da Catedral de Autun, Musée Rolin, Autun. Crédito: © Web Gallery of Art |
No entanto as representações mais famosas são as pinturas de Giotto (1267-1337): o fresco A Adoração dos Magos (1303-05), da Capela Scrovegni, em Pádua, e também A Epifania (1320), um painel pertencente a uma série de sete sobre a vida de Cristo. Nestas duas obras a estrela surge com uma cauda, tal como um cometa, o que não resulta muito estranho se nos lembrarmos de que em 1301 se registou uma passagem do cometa Halley, que Giotto certamente terá observado.
A Epifania (possivelmente de 1320) – Giotto – Fund. John Stewart Kennedy, 1911 (11.126.1) – Museu Metropolitano de Arte de Nova Iorque. |
Aliás, esta ideia, de que a estrela poderia ter sido semelhante a um cometa, já vem referida nos escritos de Origen de Alexandria, filósofo e teólogo que viveu entre 185 e 254 D.C. e um dos primeiros a procurar uma interpretação natural para o fenómeno. Origen fala de uma nova estrela diferente das conhecidas no céu e que poderia ter sido um cometa. Os cometas costumavam prever mortes e não nascimentos, mas Origen chega a referir um texto de um filósofo egípcio que dizia exactamente o contrário.
Todavia, para a maioria dos teólogos dos primeiros séculos D.C., tal como Santo Agostinho (354-430), a estrela terá sido um milagre, uma força divina que terá tomado a forma de uma estrela.
Mas a partir dos séculos XIV e XV, com o Renascimento e as Descobertas, assistiu-se a um desabrochar do conhecimento, o que viria a trazer à luz alguns paradoxos religiosos. Começou a surgir a necessidade de se encontrar uma explicação mais clara e natural para este género de prodígios, de forma a compatibilizá-los com os dados empíricos.O contributo mais importante para se começar a pensar na estrela como um fenómeno astronómico real terá sido dado, já no séc. XVII, pelo astrónomo alemão Johannes Kepler.
Fontes:
http://www.geocities.com/lauferworld.geo/OdessyIII.htm