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quinta-feira, 15 de março de 2012

Galáxias canibais

O crescimento é um fenómeno doloroso? Perguntem ao Universo, pois sabe-se agora que nos seus primeiros tempos as galáxias alimentavam-se umas das outras. Ou seja, eram canibais.


As galáxias estudadas pela equipa, os pixéis indicam o gás que as alimenta  (ESO/CFHT)

Uma equipa de cientistas ligada ao Observatório Europeu do Sul (ESO) a trabalhar  no Very Large Telescope -um complexo de telescópios que pertence ao ESO e que está situado no deserto do Atacama, Chile, olhou para um momento bem inicial do universo,  entre três e cinco mil milhões de anos após o Big Bang, tendo observado "o berço efervescente de estrelas e galáxias adolescentes". 

Os resultados obtidos no estudo mostraram uma nova perspectiva sobre os processos importantes na formação das galáxias do universo jovem, um momento que os cientistas identificam como "transição". Este momento é caracterizado por dois tipos de fenómenos: processos violentos de fusão [entre galáxias], acompanhados por momentos mais "calmos" de agregação de gás para dentro das galáxias - no fundo, observaram uma verdadeira "maternidade de estrelas".

Neste período particularmente turbulento, semelhante à adolescência, as galáxias experimentam grandes transformações, com a agregação mais calma a parecer dominar o processo de construção de galáxias no universo muito jovem.

Para chegarem a estas conclusões, a equipa observou 84 galáxias situadas a uma distância de 10,5 mil milhões de anos-luz. A luz registada pelos espectrómetros, já na zona dos raios infravermelhos, foi emitida por estas estruturas há nove mil milhões de anos, cerca de quatro milhões de anos depois do início do Universo. Através destes aparelhos, os cientistas conseguiram perceber parte da dinâmica dos gases que envolviam e alimentavam estas fábricas de estrelas.

Estas galáxias adolescentes já não se alimentavam de gás primordial, mas de matéria enriquecida de elementos químicos fruto da morte da primeira geração de estrelas que nasceu centenas de milhares de anos depois do Big Bang, um instante em termos de tempo cósmico.

A “ingestão” contínua deste material foi fazendo com que a massa das galáxias fosse aumentando, assim como o seu poder gravitacional. Este crescimento, num Universo mais pequeno, com uma grande densidade de galáxias, obrigou a interacções entre galáxias, onde “as maiores conseguem canibalizar as mais pequenas”.

Este fenómeno não é estranho à própria Via Láctea, explicam os cientistas: “O modelo corrente prediz que a Via Láctea experimentou pelo menos duas ou três fusões maiores. O processo continua. Em alguns milhares de milhões de anos, a Via Láctea irá fundir-se com duas pequenas galáxias vizinhas: a Grande Nuvem de Magalhães e a Pequena Nuvem de Magalhães.”

Apesar de o "canibalismo" remeter-nos para um Universo jovem com muito mais galáxias do que as que existem hoje, os cientistas ainda não conseguem contabilizar quantas é que existiam. Este é apenas um dos mistérios que o Universo guarda. Outro, talvez mais imediato e importante, é a origem destes agregados de estrelas que hoje povoam o espaço. “Continuamos a não saber quando e como é que as primeiras galáxias começaram a formar-se.”

http://cmarchesin.blogspot.com/
http://www.eso.org/public/brazil/about-eso.html




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